Homílias

261º aniversário da Catedral de São Pedro
Diocese do Rio Grande, 25 de agosto de 2016.

“Nosso fundamento é Jesus Cristo”, como diz São Paulo, e nós somos Templos Vivos de Cristo e sobre Ele construímos tudo o que somos e temos. 

Neste dia solene e de grande alegria queremos recordar aqui os primórdios da construção dessa Igreja. Espaço de fé e de esperança que conduz o homem ao encontro com a Verdade e a própria Beleza. 

Uma Igreja é o que há de mais digno para representar o sentimento de fé de um povo, é o que temos de mais elevado para viver nossa religião. A Comunidade cristã do Rio Grande se enriquece por ter um lugar sagrado onde podem reunir-se para celebrar o mistério de Cristo ressuscitado, para se tornarem epifania do Senhor, manifestando, assim um povo reunido na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo (LG 4). 

A Igreja é o ícone da Trindade, enquanto construída no Cristo ressuscitado na potência do Espírito, como realidade profundamente associada a dinâmica do amor trinitário. Uma Igreja que se reúne iluminada da Palavra e alimentada da Eucaristia e dos sacramentos da vida cristã, e da qual o povo de Deus parte para testemunhar o amor do pai no mundo: é a nossa missão. “Ide pelo mundo pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). 

Santo Agostinho num discurso célebre afirma: Este edifício se tornou a casa do nosso culto. Mas nós somos a casa de Deus. Fomos construídos neste mundo e seremos dedicados solenemente no fim dos séculos. A casa, ou melhor, a construção, exige esforço. Aquilo que se desejava enquanto esta casa era construída, se renova quando nos reunimos como discípulos de Cristo. De fato, mediante a fé, se tornam disponíveis os materiais para a construção, quando as árvores e as pedras eram cortadas dos bosques e dos montes. Quando somos catequisados, batizados, formados na fé somos como que moldados nas mãos do artesão e do construtor, que é Deus. 

Verdadeiramente nesta Igreja construída nos tornamos materiais disponíveis para a construção de um templo que não é feito de tijolos, de massa, mas de homens e mulheres novos, vivificados na fé.

Todos sabemos que vivemos num tempo duro para nossa fé. Nossos valores cristãos estão sendo diluídos pela sociedade que ilude com valores falsos e destrói a fé com atraentes promessas de felicidade inalcançáveis baseadas no ter, no prazer e na aparência.

Vivemos um tempo não só de crise de fé e de esperança, mas de uma crise das raízes da nossa fé, da perda de nossa memória e assistimos um desprezo pelo que é religioso e uma negação dos valores cristãos.

Esta indiferença religiosa está generalizada na nossa cultura e produz uma fuga da realidade. O que nós chamávamos de acedia, indolência, perda de fervor e de paixão. Esta é a nova doença da sociedade: uma preguiça espiritual, uma indiferença social e cultural para as coisas de Deus, um esvaziamento do religioso, uma tentativa de apagar da história o rosto de Deus.

Se somos templos do Espírito Santo, Templos vivos onde Deus constrói sua morada, então precisamos reconstruir os fundamentos da nossa fé. Não nos basta uma Igreja edificada, mas precisamos de uma Igreja viva, uma Igreja capaz de construir comunidades unidas e fraternas. Estamos nos aproximando dos 50 anos da nossa Diocese que será celebrado em 2021. É tempo de renovação, é tempo de reconstrução, é tempo de preparar nossos corações para o desafio de uma Igreja em saída, missionária, capaz de ir ao encontro das pessoas. É urgente reacender a esperança da fé naqueles que estão mergulhando num mundanismo onde tudo é permitido e tudo é aceito sem espírito crítico. Irmãos e irmãs, não estamos vivendo uma pequena crise social e passageira. Estamos enfrentando uma verdadeira crise estrutural e profunda, com a quebra dos valores mais fundamentais da família e da sociedade. Está mais do que na hora de acordarmos para essa realidade e a enfrentarmos com o nosso fundamento: Jesus Cristo, caminho, verdade e vida.

Nos próximos cinco anos estaremos implantando um projeto vigoroso e de grande impacto na vida eclesial da Diocese do Rio Grande. Queremos reencontrar Cristo nossa única esperança de dar significado a nossa existência, ao passado, ao presente e ao futuro. Ele nos aponta o caminho para reconstruir uma sociedade mais humana.

Nos lugares abandonados – reconstruiremos com tijolos novos – seremos mãos e máquinas e seremos a argila nas mãos do Oleiro. Seremos o cal para a nova argamassa – construiremos com pedras novas. Onde as vigas estão podres vamos construir com madeira nova. Onde as palavras não são pronunciadas construiremos com uma nova linguagem. Temos um trabalho em comum: uma Igreja para todos, um trabalho para cada um e cada um no seu trabalho.

Que o zelo por esta casa, nos impulsione a viver como discípulos e missionários levando testemunhando a todos que somos templos vivos de Jesus Cristo.

Ricardo Hoepers
Bispo do Rio Grande