Homílias

Homilia da Missa do Dia do Marinheiro
HOMILIA DA MISSA DO DIA DO MARINHEIRO
COMANDO DO 5º DISTRITO NAVAL
10 de dezembro de 2018
Catedral do Rio Grande

Exmo. Sr. Comandante do 5º Distrito Naval
Vice-Almirante José Renato de Oliveira,
Autoridades presentes,
Meus caros irmãos e irmãs,
Quando soube que tocava a mim presidir a Santa Missa, lembrando de todos os marinheiros de nossa Pátria, e de maneira especial, dos marinheiros que aqui, no 5º Distrito Naval, estão exercendo sua missão, senti uma alegria muito grande de poder expressar, em uma breve meditação, uma mensagem pela passagem do dia do Marinheiro, no próximo 13 de dezembro, quando lembramos do nascimento de Joaquim Marques Lisboa, o Almirante Tamandaré.
Se todos perceberam bem ouvimos duas leituras de grande valor espiritual para nossa vida. A primeira é um trecho de uma carta de São Paulo aos que moravam em Tessalônica. Essa carta não nos veio por acaso. São Paulo passou grandes dificuldades em Tessalônica... praticamente foi expulso. A localização e utilização de Tessalônica com o seu porto de mar deu à cidade grande destaque. Em 168 aC, tornou-se a capital do segundo distrito da Macedônia e mais tarde tornou-se a capital e principal porto de toda a província romana da Macedônia (146 aC). Em 42 aC, depois da batalha de Filipos, Tessalônica tornou-se uma cidade livre. Hoje, a moderna cidade de Thessalonike é a segunda cidade mais importante da Grécia e tem cerca de um milhão de habitantes. Portanto, caros marinheiros, a história nos ensina que a vida é cheia de batalhas. Onde tem mar, tem conflitos, tempestades, desafios, e a vocação do marinheiro não é para a bonança, mas deve estar sempre preparado para enfrentar as intempéries materiais e espirituais. Por isso, Paulo, o apóstolo que conhecia o mar e fez grandes navegações, vem dizer essa palavra para você, caro marinheiro: “Fazei progressos ainda maiores”, isto é, não se conforme com o degrau que você alcançou, não seja acomodado, não pense que assim está bom, não se atenha a cumprir só o que lhe foi pedido: faça mais... progrida... avante marinheiro... esteja sempre mais preparado do que os outros pensam que você está! Surpreenda seus inimigos, seja orgulho para seus amigos, e nunca decepcione seus superiores...essa é a palavra para você, caro Marinheiro, guarde-a no seu coração, diga para você mesmo: Preciso fazer progressos ainda maiores. O Almirante Tamandaré nos deixou um legado de profunda humildade e simplicidade. Quem participou das maiores batalhas nos ensina exatamente o que pede o Evangelho de hoje: Bem-aventurados os que tem um coração pobre porque deles é o reino dos céus... foi no seu testamento final que o Almirante Tamandaré mostrou seu total despojamento desta vida, seu desapego e sua profunda espiritualidade: Exijo que meu corpo seja vestido somente com camisa, ceroula e coberto com um lençol, metido em um caixão forrado de baeta, tendo uma cruz na mesma fazenda, branca, e sobre ela colocada a âncora verde que me ofereceu a Escola Naval em 13 de Dezembro de 1892, devendo-se colocar no lugar que faz cruz a haste e o cepo um coração imitando o de Jesus, para que assim ornado signifique a âncora-cruz, o emblema da fé, esperança e caridade, que procurei conservar sempre como timbre dos
meus sentimentos.
E para mostrar o que mais honrou sua vida, ele pede que na sua lápide fosse escrito:
"Aqui jaz o velho marinheiro".
Foram tantas conquistas, tantos foram seus feitos, seus títulos e seus reconhecimentos, mas ele sabia que o mais importante é aquilo que o impulsionou a fazer tudo com honradez e coragem: e as duas coisas estão no seu testamento final: a fé e a honra. A fé que procurou conservar como o timbre dos seus sentimentos e, a honra de ter sido um marinheiro de todo o seu coração... o resto veio por acréscimo.
Caros Marinheiros, o Natal se aproxima e não é por menos que celebramos o dia que a vocês é dedicado no natalício do Almirante Tamandaré. Lembrem-se
sempre de seus exemplos. Mas lembrem-se acima de tudo, que foi o Deus Menino, Jesus Cristo, nascido em uma manjedoura, simples e humilde, filho de
carpinteiro, que ensinou a todas as gerações que o seguiram que o sentido de tudo está em doar a vida pelo bem do próximo. Que possamos seguir seu
exemplo e se um dia for necessário entregar a nossa vida para salvar alguém que o façamos sem medir esforços, e que, por cada um de nós, o Bem sempre
possa vencer.
Feliz dia do Marinheiro.
+ Ricardo Hoepers
Bispo da Diocese do Rio Grande