Queridos irmãos e irmãs
Cristo ontem, hoje e sempre: Gratidão e Missão.
Estamos iniciando mais um tempo quaresmal.
Todos sabemos muito bem que o mundo precisa de conversão. E mais ainda, cada um sabe das suas falhas e dos seus vícios e o quanto devemos ainda mudar nosso coração.
Por isso, esses próximos quarenta dias podem ser uma oportunidade imperdível de rever nossas escolhas e recomeçar um novo caminho, voltando-se para o Senhor. Ele irá acompanhar passo a passo da nossa conversão.
No Evangelho Jesus recupera algumas práticas religiosas que normalmente nos esquecemos e, que sem elas, não há uma verdadeira conversão.
A esmola, a oração e o jejum. Eram práticas piedosas muito comuns na época de Jesus. Porém ele nos abre os olhos e o coração para vivermos corretamente essas virtudes.
A esmola só existe porque somos injustos e alguns tem demais enquanto outros não tem nada. É a justiça de Deus que nos leva a sentir compaixão e olhar com piedade os que mais necessitam... quando rezamos... “Oh meu bom Jesus perdoai, nos livrai do fogo e do inferno, elevai as almas todas para o céu e socorrei principalmente os que mais precisarem...” E como você acha que Deus vai socorrer os que mais precisam? É através de você cristão batizado, que deve ser construtor do reino de Deus aqui na terra... é pelas suas mãos, pelo seu coração bondoso e humilde que não abandona e nem despreza os que Deus confiou aos seus cuidados. Se acreditamos na justiça de Deus devemos testemunhá-la nas nossas ações. Mas lembre-se da palavra de Jesus: sem tocar trombeta diante de ti... faça o bem silenciosamente, sem esperar recompensas.
A segunda prática religiosa de grande importância para nosso fortalecimento espiritual é a oração.
Hoje a oração está meio em crise... muitos perguntam porque rezar e como rezar se Deus já sabe do que temos necessidade. Deus deseja o bem de cada um de nós então porque rezar... temos que constranger Deus com nossa insistência?
Jesus critica a hipocrisia de uma oração que é vazia, seja ela individualmente, seja ela comunitária. Jesus percebeu que os Fariseus oravam a Deus, mas eram egoístas, eram orgulhosos, desprezavam os outros... então a oração se torna uma mentira. A oração deve nos ajudar a acolher a vontade de Deus na nossa vida e não constrangê-lo para fazer a nossa vontade. A oração é sintonia com Deus, com sua luz, com sua palavra, com sua vontade, e isso nos transforma... transforma nosso olhar sobre nós mesmos e sobre o próximo.... a oração é um diálogo: eu entro com meus problemas, minhas angústias, com meus desejos, com meus rancores e apresento tudo isso a Deus... mas depois precisa escutar o que Deus diz.. para que Deus possa falar e agir em nós e na acolhida da sua palavra e da sua luz... Deus então nos restituirá a sua imagem e semelhança em nós.
O terceiro é o jejum... algo estranho para os nossos dias. Parece que falar em jejum é algo do passado e antiquado. A questão que está por detrás de tudo isso é nossa capacidade de renúncia, de fazer sacrifícios... isso exige empenho e esforço. Jesus nos fala de um jejum muito mais profundo que simplesmente uma receita para emagrecer. O jejum do discípulo de Jesus é uma expressão de alegria, é uma festa. Ele fala de perfumar-se quando se jejua... significa que Deus nos quer feliz. E não uma forma de autoflagelo. O único jejum que agrada a Deus é aquele que vem do amor... só tem sentido renunciar uma coisa quando a oferecemos para quem não a tem. Toda renúncia exige uma partilha, uma solidariedade, uma caridade... O jejum é um gesto e amor. Aquilo que você deixou de comer, aquilo que você renunciou deve ser distribuído, doado para quem precisa. O jejum cria amor, partilha e fraternidade.
Assim meus caros irmãos e irmãs iniciaremos nossa quaresma, com gestos concretos de conversão, cuidando da nossa alma e do nosso coração, cuidando das pessoas que passa por nós, cuidando também da nossa casa comum, do nosso pedaço de chão no qual nascemos, nossa terra, nossas riquezas naturais, nossa água, nosso verde, nosso bioma dos pampas, enfim, tudo o que Deus nos oferece para nossa felicidade... cuidar da vida, defender a vida em todas as suas expressões... principalmente os que mais precisarem... eis aí a melhor esmola, a melhor oração, o melhor jejum.
Empenho, esforço renúncia e sacrifício não estão fora de moda... ao contrário, sem eles não há verdadeira conversão... e você quando vai começar a mudança da sua vida? A quaresma é esse tempo favorável... a hora é agora... coloque-se a caminho e diga com toda força: “Eis-me aqui, Senhor, envia-me”(Is 6,8).
Ricardo Hoepers
Bispo Diocesano do Rio Grande