Caros irmãos do presbitério da Diocese do Rio Grande - RS
A Escritura que acabamos de ouvir continua a se cumprir pelo nosso sacerdócio ministerial que participa do Múnus sacerdotal de Cristo. É o mesmo Espírito que está sobre nós, é a mesma unção que nos consagrou, é a mesma Palavra que anunciamos. Nem sequer o tempo cronológico nos separa, porque sabemos bem, que pela liturgia que celebramos, atualizamos o mistério da Paixão, Morte e Ressureição superando as barreiras do tempo e do espaço e mergulhando em plenitude no lado aberto onde jorrou sangue e água, isto é, onde os batizados e mártires regaram a terra e semearam a fé dos primeiros cristãos.
Queremos celebrar hoje a alegria de sermos sacerdotes em Cristo e por Ele, com Ele e n’Ele anunciarmos a Boa Nova a todos os povos. O sacerdócio de Cristo foi plenamente fecundo. A palavra anunciada se tornava Palavra vivida; Assim, nós também somos chamados a anunciar a Boa Nova para os pobres, para os cativos, para os cegos e restituir-lhes a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus.
Nosso sacerdócio deve fecundar a vida de Cristo no coração da humanidade: “Vós sois os sacerdotes do Senhor, chamados Ministros de Deus” (Isaías).
Vivemos em uma sociedade, uma cultura moderna ou pós-moderna que é presa de uma crise de autoridade e em especial da autoridade paterna. Padre quer dizer Pai, mas esta crise social repercute na paternidade espiritual do sacerdócio. Então, que esses sinais de crise não sejam motivos de desânimo, caro padre, mas devem ser considerados como “oportunidades” para que possamos amadurecer ainda mais a fim de enriquecer a si mesmo e a sua comunidade ao “reavivar o dom recebido” (cf. 2Tim, 1,6):
Peço que fiquem atentos a alguns pontos:
· - “A experiência da própria debilidade”: ou seja, as “contradições” e inconsistências que afloram, porque permaneceram presentes em nossa personalidade e ainda precisam de tempo para serem completamente ordenadas a Deus para a maior glória do seu Santo Nome.
· - “Sentir-se
funcionários do sagrado... sem um coração de pastor”: isto é,
a eventual perda ou desgaste da identidade paterna do sacerdote como Pastor e
Pai na fé de uma inteira comunidade (cf. 1Cor 4,15).
- “O desafio da cultura contemporânea”: suas problemáticas
e propostas de estilo de vida, relações interpessoais e sociais, que muitas
vezes se opõem frontalmente ao Evangelho e seus valores, expõem o sacerdote a
certa oposição formal e, por conseguinte, uma baixa popularidade até mesmo
entre os seus paroquianos, ao defender e pregar aquilo que pede o Evangelho e
que seja digno de um verdadeiro estilo de vida sacerdotal.
- “A atração do poder e da riqueza”: que chega como uma forte tendência a autopreservação e a busca da própria segurança afetiva e material, limitando quase de maneira imperceptível a abertura e a fé do sacerdote na Providência Divina.
- A vivência do celibato em um ambiente cultural que proclama a satisfação quase exclusiva das próprias necessidades como virtude, e que expõe as pessoas a uma verdadeira precariedade afetiva, favorecendo todo tipo de regressão afetiva que se faz sentir fortemente dentro das tensões pastorais e no presbitério, criando medos e desconfianças no coração do padre sobre a sua “entrega total ao próprio ministério” e produzindo grande agitação em sua vida: “perda de tempo, cansaços, e a natural estafa física...”. Tudo isso limita e/ou esteriliza a fecundidade espiritual advinda do celibato sacerdotal.
Meus caros irmãos no sacerdócio, superemos esses desafios com intensa vida apostólica, mas acima de tudo com muita oração. Somente a oração diária e constante podem trazer a verdadeira alegria ao nosso ministério. E, de fato, a alegria e a fecundidade, são notas características de uma vida alicerçada na fé, na verdadeira caridade cristã e cheia de esperança na Providência e na Fidelidade de Deus em suas promessas, afinal, Ele, o único que tem palavras de vida eterna (cf. Jo 6,68), nos chamou para que vivamos e tenhamos vida em abundância (cf. Jo 10,10). Foi o próprio Senhor Jesus quem declarou a seus discípulos: “Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa... Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi e vos designei, para dardes fruto e para que o vosso fruto permaneça...” (Jo 15,11.16).
Tenhamos os nossos olhos fixos nEle, Jesus Cristo, Nosso Senhor, e então alcançaremos a verdadeira alegria, seremos homens sejamos homens de profunda paternidade espiritual e capazes de unir ao sacrifício de Cristo o seu próprio sacrifício que se traduz em amor a Deus e ao próximo.
Rio Grande, 18 de abril de 2019.
+ Ricardo Hoepers