Dom Ricardo Hoepers: "Urgente: mais leitos de UTI!"
03/03/2021
Estamos vivendo um momento muito delicado da Pandemia. A Covid-19
continua a preocupar o sistema de saúde e as estruturas começam a colapsar
novamente.
Todos nós estamos acompanhando a real situação, não tanto pelos meios
de comunicação, mas pelos casos reais de nossos familiares que precisam utilizar
o sistema de saúde: a situação é séria, muito séria mesmo! E o pior de tudo: neste
cenário de caos, percebemos falta de clareza, competência e seriedade na
condução da crise.
Hoje, se eu e você, precisarmos de uma vaga na UTI, teremos que entrar na
fila de espera. Só nesta última noite (de 02 para 03 de março) foram 700 pedidos
de leitos de UTI no Estado do Rio Grande do Sul, sendo que destes, 400 eram para
pacientes com COVID e 300 para outras doenças. A demanda é muito maior do
que a estrutura pode suportar.
O que vemos, então, no dia a dia? Uma transferência indevida de
responsabilidade. O Sistema Estadual de Regulação de Leitos de UTI que deveria
resolver a demanda atual de falta de leitos estruturados, vem minimizando a
situação delegando transferências de cidade para cidade, de hospital para
hospital. Com isso, a Central de Regulação de Urgências (SAMU) se vê obrigada a
transferir pacientes graves de uma emergência para outra emergência, mesmo
sabendo que não há garantia que surgirá uma vaga na UTI do hospital para onde
está sendo transferido. Já houve casos de óbito durante o translado. Alguns casos
simplesmente não havia critério ou lógica nenhuma na mudança de local. Outra
situação grave é a questão local, já que esses translados deixam a região
descoberta para o atendimento de urgências e emergências não infecciosas, tais
como acidentes, suicídios, infartos, AVCs, agressões por arma de fogo e arma
branca, entre outros.
Portanto, é bom lembrar que cabe ao Sistema Estadual de Regulação de
Leitos de UTI garantir a seguridade e a integridade dos pacientes que estão
cadastrados a espera de uma vaga. A Pandemia não começou ontem. Já deveria
ter sido estruturado um sistema mais eficiente, diante da projeção que se fazia
para esse ano de 2021. Mas, parece que subestimaram o vírus, ou realmente não
priorizaram a saúde da população. Dessa forma, entendemos que não se resolve
o problema da falta de leitos de UTIs, transferindo a responsabilidade para o
SAMU encontrar vagas ou minimizando a situação com uma “aparente solução”
que provém da mudança de local.
Sabemos que numa grande parte dos nossos Municípios encontramos um
Pronto Atendimento ou hospital comunitário sem a complexidade necessária
para o tratamento da COVID-19 e sem UTI, e até sem respirador. A pressão sobre
os gestores públicos é grande para que o paciente seja transferido. Mas é
importante destacar, que na situação atual, uma “transferência” não significa
garantia de leito de UTI.
Existe um Plano Regulador para a distribuição dessas vagas em nosso
Estado. Mas os critérios desse plano regulador realmente estão funcionando?
Queremos esclarecimentos sobre essa prática operacional e seus critérios.
É urgente uma mobilização pública em torno do tema, uma melhor
eficiência do sistema regulatório para os leitos de UTI e uma adequação mais
eficaz diante das demandas. É um desrespeito e uma desumanização ficar
escamoteando a real situação colocando pessoas em risco ainda maior.
Os profissionais da saúde estão se esgotando com isso, os familiares e os
pacientes estão no limite, e a sociedade exige mais eficiência e respostas
concretas com a devida transparência diante deste cenário caótico. Maquiar o
colapso não resolve o problema!
É claro que todos nós temos um papel imprescindível para a superação
dessa crise. Como cidadãos, não podemos, também nós, transferirmos a nossa
responsabilidade pessoal e comunitária para a gestão pública. Talvez, muito
desse cenário se deve ao nosso laxismo e negacionismo em relação ao COVID-19.
Temos o dever moral de seguir os protocolos, respeitar o distanciamento social,
usar máscara e, enfim, tomar todo o cuidado necessário para evitar a
disseminação do vírus e suas cepas. Somente unidos podemos vencer essa
pandemia. Não é momento de baixar a guarda, de se omitir e de minimizar, mas
de assumirmos o protagonismo de uma geração que no futuro poderá dizer que
fez de tudo para salvaguardar, em primeiro lugar, a vida dos seus cidadãos.
Dom Ricardo Hoepers
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