A Festa de Santo Antônio é um acontecimento no município de Tavares pois ali estão reunidas religiosidade, tradição e história. Prova disso é que enquanto Tavares tem 39 anos de emancipação política, a Festa do Padroeiro já está na sua 81ª edição. A Paróquia Santo Antônio foi constituída há apenas dois anos, pois, assim como o município de Tavares pertencia a Mostardas, também a comunidade católica dali pertencia à paróquia São Luiz Rei, da vizinha cidade. Para a catequista Veridiana Pagano, esse caminhar sozinho da comunidade local, foi positivo no sentido de se sentir mais igreja. “A festa do padroeiro, mais que uma tradição, por ser cidade pequena, é um acontecimento, pois até as pessoas que não são católicas esperam por ela”, frisou.
Conforme o padre Márcio Gonçalves, primeiro pároco a morar em Tavares com a criação da nova paróquia, a importância da festa, primeiramente, é histórica porque a cidade teve início a partir da construção da capela. “Existiam alguns moradores que moravam em campos, em chácaras, e as pessoas passaram a colonizar em torno da capela, que foi fundamental para a expansão da cidade. Dessa forma, Santo Antônio se tornou padroeiro não só da comunidade católica, mas do município de Tavares”, contou ele, enfatizando que a cidade foi erguida e alicerçada na fé do padroeiro.
Pela relevância histórica, existe um esforço da comunidade católica local para resgatar todos os dados, desde a primeira ata de 1938, quando se teve uma reunião para construir a capela, até todo o material histórico das 81 festas em louvor do padroeiro, organizado pela primeira catequista, dona Maria Fausta. O padre, por sua vez, está digitalizando e divulgando as informações em quadros para que a comunidade conheça a sua história.
Segundo Veridiana, os católicos são unidos em Tavares e não medem esforços para fortalecer a tradição, mesmo diante da pandemia. “No que se refere à catequese, por exemplo, levamos as crianças a conhecerem a história da igreja, a fazer parte de tudo, envolvendo-as nas atividades da festa”, contou a catequista. Para o padre Márcio, não pode ser descartado o viés econômico da festa, que contribui para o sustento da igreja, mas, ao mesmo tempo, existe o valor afetivo porque a grande maioria das famílias é católica. “A festa ajuda a manter a devoção e a tradição que vai passando de pais para filhos”, frisou.
É um período longo de 15 dias de festa, que começa com a plantação do mastro em frente à Igreja. A partir daí, os festeiros visitam as casas e o interior, levando a imagem de Santo Antônio, quando também se arrecada doações para o leilão e a quermesse, que o padre Márcio implantou ao chegar na paróquia, cuja renda é revertida para a manutenção da igreja. Na trezena de Santo Antônio, de 01 a 13 do mês de junho, sempre tem o tríduo das crianças, dos jovens e das famílias. E no grande dia da festa, procissão (carreata na pandemia) e almoço. Além do famoso Baile da Saudade, para os devotos da terceira idade.
Reinvenção na pandemia - Nem a pandemia conseguiu bloquear esse desejo de manter a tradição. “A gente teve que se reinventar”, disse Veridiana, explicando que, em 2020, foi uma festa totalmente online. Quase tudo virou live. Esse ano, houve um pouco mais de flexibilização, sendo que a plantação do mastro foi uma semana antes e a trezena de Santo Antônio realizada na página da comunidade no facebook.
Na última semana, o padre celebrou a Santa Missa todos os dias, ao meio dia. E toda a catequese foi convocada para a Missa das crianças, quando elas puderam participar no salão paroquial que é grande o suficiente para o distanciamento necessário. A carreata com mais de cem carros passeou pela cidade pedindo a bênção e a intercessão de Santo Antônio para o município de Tavares.
A importância da família - Veridiana conta que as meninas ficam eufóricas para carregarem a bandeira de Santo Antônio, uma tradição em Tavares. Ela própria realizou o seu sonho de carregar, em 1994. Esse ano, foi a vez da sua filha, Isabella Löff, de oito anos de idade, que carregou a bandeira no dia da plantação do mastro. “Algo bom que passa de geração para geração, e bonito de ver os filhos da gente seguir dentro da igreja. E todas as crianças das turmas de catequese carregando a bandeira, ajudando a embalar pãozinho de Santo Antônio, a cortar as bandeirinhas do salão. Muito gratificante, pois vivemos dias tão difíceis; então, ao ver as crianças na igreja, a gente sabe que a nossa paróquia seguirá em frente”, entende a catequista.
Outra iniciativa da comunidade de Tavares, seguindo o exemplo de São José do Norte, é fazer pinturas nas telhas que eram da capela de 1940 e que sobraram a partir de uma reforma na igreja. As pessoas compram e ficam com uma lembrança do início da igreja nas suas casas. “É legal passar isso para as crianças, para elas saberem a história de como tudo começou”, comentou.
Interessante ver como a reflexão do bispo diocesano, Dom Ricardo Hoepers, na homilia de Santo Antônio, na comunidade do Senandes, em Rio Grande, também seguiu nessa linha. Dom Ricardo presidiu a Celebração Eucarística da Festa de Santo Antônio na Comunidade do Senandes, que todo ano celebra com fervor seu padroeiro. Na ocasião, ele enfatizou o quanto é importante falar menos e fazer mais, mais amor, mais caridade, mais tolerância, mais paciência, cuja dinâmica, inclusive, ajuda a melhorar a saúde das pessoas.
E complementou que é preciso exercitar a gratidão dentro de casa. “Porque, enfatizou, tudo começa dentro de casa, ou seja, as melhores virtudes a gente aprende dentro de casa”. Como também parece ser o pensamento do pessoal de Tavares, de manter a tradição religiosa, incluindo as crianças no processo. “Tudo que acontece em nossa vida é uma oportunidade para se tornar uma pessoa melhor”, disse o bispo. Nesse sentido, sugeriu a importância do desapego das coisas materiais, utilizando-se dos alimentos espirituais, como um momento de oração, um momento bíblico. E por que não, se envolver nas festas de sua devoção, como bem ensinam as comunidades católicas da diocese.
Quando Jesus fala na parábola que o “Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra”, segundo o bispo, Jesus está dizendo para aprendermos com a natureza, pois tudo tem seu ritmo. “Deus também vai agindo em nossa vida silenciosamente. Calma! O processo é mais importante que o resultado. Tem que valorizar o dia a dia. Deus vai conduzindo; então tenha fé”, explicou Dom Ricardo. E resumiu que Santo Antônio, em sua vida, tratava justamente dessas coisas, ou seja, menos palavra e mais ação porque Deus age através de nós, da gratidão, da obra, da caridade, da paciência. Uma bela reflexão para podemos melhorar em nossas vidas.
História e fé - A imagem de Santo Antônio da Paróquia de Tavares veio de Portugal. Toda em madeira, ela só sai da igreja em momentos especiais como procissão ou carreata. Por ser muito antiga e ter um valor histórico, deverá ser adquirida uma nova imagem só para esses deslocamentos, mantendo a imagem histórica protegida dentro da igreja. E olha que Santo Antônio já sofreu nas mãos das moças da cidade. Há muito tempo atrás, havia uma tradição em que as moças que quisessem casar arrancavam um dedinho de Santo Antônio, sendo que uma das mãos do santo, inclusive, teve que ser restaurada.
A história da Capela de Santo Antônio é a história de Tavares. E a comunidade se esforça para lembrar detalhes tão importantes, como, por exemplo, que no dia 13 de junho 1933, foi realizada missa na casa de um antigo comerciante do lugar onde se ventilou a primeira ideia de construção da Capela. E ainda que a esposa de um dos presentes na reunião estava grávida e o mesmo fez uma promessa que, se seu filho(a) nascesse no dia de Santo Antônio (13 de junho), ele doaria o terreno para a referida igreja, o que de fato aconteceu.
Até as Irmãs Carmelitas de Rio Grande constam nessa história, de que doaram a primeira paramenta da capela, composta de vestes para o padre rezar missas e toalhas de linho para o altar. Quando a história reveste a fé, a tradição se encarrega de manter todos conectados no objetivo de seguir os caminhos de seus padroeiros, principalmente no que se refere ao amor a Deus, como acontece na Festa de Santo Antônio de Tavares.