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André e Lisete Dameda: O desafio da evangelização de jovens para o casal vice-presidente nacional do Movimento de Emaús
21/12/2021

A caminhada de André e Lisete Dameda no Emaús vem de longa data, desde maio de 1987 quando ambos fizeram os cursos do movimento em Rio Grande. Nada mais natural que recebessem um convite de muita responsabilidade, a vice-presidência do Secretariado Nacional desse Movimento que está presente em 21 Dioceses do Brasil distribuídas em 5 estados e no Distrito Federal (9 no RS, 2 em SC, 5 em SP, 3 em MG, 1 no RJ e 1 no DF). Conforme André Dameda, o Secretariado Nacional é um órgão executivo que se preocupa em preservar a unidade metodológica dos Cursos de Emaús, bem como promover a integração das diversas Comunidades Missionárias. “Quando fomos convidados a participar do Secretariado Nacional, inicialmente ficamos assustados com a responsabilidade que isso implica, mas depois de muita reflexão, oração e conversas com amigos, aceitamos o convite”, lembra.

 

Para o casal, a experiência tem sido muito rica. “Somos um grupo de 12 pessoas (dez leigos, um padre e um bispo) de diferentes regiões do país. Há muito trabalho, especialmente na preparação e execução dos encontros nacionais. Mas temos tido a chance de conhecer as Comunidades Missionárias de Emaús, os jovens e adultos que se comprometem com a evangelização da juventude, com os mais diversos sotaques e ritmos, mas unidos por um ideal comum”, comenta Lisete Dameda.

 

A missão de evangelizar jovens - O Emaús teve o seu início em 1968, em São Paulo. Em Rio Grande, o primeiro curso aconteceu em janeiro de 1976. De lá para cá ocorreram algumas mudanças na metodologia, muitas mudanças na linguagem, mas sem jamais perder de vista a sua essência e espiritualidade. “A mensagem do Evangelho é perene e atual. As perguntas e inquietações do jovem dos anos 2020 não são tão diferentes das do jovem dos anos 1970. Apenas estão inseridas em um outro contexto histórico e precisam ser interpretadas à luz da realidade presente”, entende André.

 

No entanto, existe uma série de fatores que concorrem para o afastamento do jovem da religião, como viver em uma sociedade secularizada e materialista, na qual a religião é relegada a um segundo plano e até objeto de preconceito. Outro ponto destacado por ele é que existe uma noção de produtividade imposta aos jovens, que pode levar à falsa impressão de que o tempo envolvido na participação junto à Igreja é um tempo “perdido”.

 

Como se não bastasse, há um falso conceito de que ser jovem cristão é incompatível com diversão. “É assustadoramente crescente o número de jovens que não foram batizados e/ou não receberam uma catequese familiar, o que também afasta um pouco os jovens”, ilustra Lisete, reconhecendo que há uma limitação de adultos e sacerdotes, sem generalizar. “Muitas vezes em nossas comunidades, não abrimos os espaços adequados à participação dos jovens. Queremos que eles se adaptem aos nossos “esquemas”, “ritmos” e “prazos”, sem abrir um espaço que seja acolhedor e que ofereça um acompanhamento verdadeiro”, pondera ela.

 

A convivência com os jovens - O principal desafio, sem sombra de dúvidas, são os adultos, na opinião do casal assessor da juventude. “Por vezes, ao atingir a idade adulta, esquecemos de como foi a nossa juventude, ou mesmo idealizamos o jovem que fomos. Daí surgem as famosas sentenças: “no meu tempo respeitávamos os mais velhos”, “no meu tempo de jovem gostávamos muito mais de rezar”, “éramos mais responsáveis” e outras coisas do gênero”.

 

            Para André e Lisete, o adulto que esqueceu das angústias, conflitos, imaturidades e irresponsabilidades da sua juventude, pode se tornar incapaz de acompanhar os jovens. Isso não significa que o adulto precise se comportar como um adolescente, ou que seja condescendente, mas, sim, que ele precisa olhar para o jovem que acompanha e lembrar (de forma sincera) do jovem que foi.

 

“Compreensão, empatia, acolhimento, respeito e diálogo franco. Essas são as chaves de uma parceria entre jovens e adultos. E isso não implica em deixar de criticar ou exercer a correção fraterna, mas faz com que sejam verdadeiramente fraternas. O Sínodo da Juventude e a Exortação Apostólica Christus Vivit, trazem belas considerações neste sentido”, revelam de suas próprias experiências.

 

Um desafio para a Igreja – Sem dúvida, é um desafio para a Igreja. Na 40ª Assembleia Diocesana, Dom José Mário, bispo emérito de Rio Grande, invocou a todos sobre a necessidade de inserir mais os jovens nas comunidades. Para André, é preciso acreditar nos jovens, abrir espaço para eles e acompanhá-los. “A lógica dos adultos muitas vezes é oferecer o espaço e abandonar o jovem. Aí, quando não dá certo, volta e diz “não dá para confiar nos jovens mesmo”, explica.

 

Ele relata que, em 2013, durante a preparação da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), cada paróquia da Diocese reuniu jovens e adultos para um olhar amoroso sobre a juventude e sua inserção nas comunidades paroquiais. “Nesses momentos de escuta e de fala, ouvimos jovens dizer que ‘as tias da comunidade queriam a presença deles apenas para o trabalho braçal’, ouvimos adultos dizendo que ‘os jovens queriam assumir espaços, mas muitas vezes se comprometiam e não cumpriam’. Mas tudo isso em um clima de muita fraternidade e de grande florescimento da juventude na Diocese”.

 

No Emaús Nacional, desde 2019, tendo sido vivida uma experiência chamada de Protagonismo Jovem, identificando lideranças positivas, de diferentes secretariados e regiões, para falarem sobre os desafios e alegrias de serem jovens comprometidos com Jesus Cristo, com a Igreja, com o Emaús. A partir do primeiro grupo, foi formado um grupo no whatsapp e adicionados outros jovens nos quais se identifica liderança e comprometimento. Esse grupo é responsável por idealizar e executar várias atividades do movimento, em nível nacional, como por exemplo O Curso sobre Teologia do Corpo, realizado no ano passado, e o Curso sobre a Amoris Laetitia, realizado no momento.

 

Lisete Dameda enfatiza que essa é uma experiência de jovens comprometidos, com espaço para trabalharem, acompanhados por quatro adultos (os presidentes e vice-presidentes nacionais) que, sem jamais ocupar o espaço dos jovens como protagonistas, lembram alguma data, verificam o andamento das tarefas, oferecem suporte diante de alguma dificuldade mais complexa. “Essa parceria entre jovens e adultos é, na nossa opinião, o grande caminho para que os jovens reconheçam a Igreja como sua casa”, revela.

 

Para o casal Dameda, é importante manter os jovens participantes para que a Igreja não envelheça demais, frisando que esse sentimento está resumido na frase do Papa Francisco no último parágrafo da Exortação Christus Vivit: “Queridos jovens, ficarei feliz vendo-vos correr mais rápido do que os lentos e medrosos. Correi «atraídos por aquele Rosto tão amado, que adoramos na sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne do irmão que sofre. O Espírito Santo vos impulsione nesta corrida para a frente. A Igreja precisa do vosso ímpeto, das vossas intuições, da vossa fé. Nós temos necessidade disto! E quando chegardes aonde nós ainda não chegamos, tende a paciência de esperar por nós»”.

 

Curso Amoris Laetitia – A escolha do curso sobre essa Exortação Apostólica significa que o tema família continua sendo central para a realidade dos jovens. “Quem conversa e, principalmente, escuta os jovens, conforme Lisete, percebe isso facilmente. Quando a família “adoece”, sofre, se desestrutura, o jovem se vê fragilizado, descrente deste modelo de convivência e muitas vezes incapacitado para viver o amor”, justifica.

 

O curso teve uma alta procura, com boa participação e interação nos debates. André e Lisete Dameda acreditam que uma formação sólida acerca do ensinamento da Igreja, associada ao testemunho autêntico, ajuda muito, sem vender uma ideia romantizada e idealizada do matrimônio e da família, mas verdadeira. “O jovem que vê e convive com adultos que lutam para ser uma família cristã, que vive o evangelho apesar de todas as dificuldades, passa a querer esse modelo para si, para a família que quer construir”, alertam. Por isso o tema “família” é tão valorizado no Movimento de Emaús, que acredita ser possível ajudar a formar uma noção de família, uma compreensão do Sacramento do Matrimônio, colaborando na construção de famílias novas, que se espelhem na Sagrada Família.

 

Texto: Lucilene Zafalon / Pastoral da Comunicação Diocesana

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