Reflexões

Sobre a sepultura dos defuntos e a cremação
A Congregação para a Doutrina da Fé apresentou a Instrução Ad ressurgendum cum Christo no último agosto explicando e esclarecendo alguns pontos acerca da cremação

A primeira questão que devemos considerar é que pelo Batismo somos imersos na morte com Cristo e assimilados a Ele pela sua ressurreição. Assim nos diz São Paulo: “Sepultados com Ele no Batismo, também com Ele fostes ressuscitados pela fé que tivestes no poder de Deus, que O ressuscitou dos mortos (Col 2, 12). Dessa forma, o cristão não vê a morte como um fim em si mesmo, nem como uma tragédia sem sentido, mas como uma passagem, uma transformação: “Para os que creem em vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma; e desfeita, a morada, neste exílio terrestre, adquirimos no céu uma morada eterna” (Prefácio dos Defuntos I). Por isso, professamos com toda a nossa fé que cremos na ressurreição, porque em Cristo todos serão restituídos à vida (cf. ICor 15, 20-22).

A nossa tradição cristã nos pede um grande respeito para com os defuntos e, por isso, a Igreja recomenda que os corpos sejam sepultados no cemitério ou num lugar sagrado, pois é uma forma idônea para exprimir a fé e a esperança na ressurreição corporal. O Ritual de exéquias, o enterro e sepultamento confirmam a fé na ressurreição da carne, evitam rituais estranhos que desvirtuam nossa fé e, finalmente, conservam a comunhão entre os vivos e os mortos opondo-se a tendência de esconder ou privatizar a morte. 

Apesar da Igreja preferir a sepultura dos corpos, todavia, a cremação não é proibida desde que: 1) não desrespeite a vontade do fiel quando ainda em vida, ou que tenha sido preferida por razões contrárias à doutrina cristã; 2) que as cinzas sejam conservadas em um lugar sagrado, ou num cemitério, ou numa igreja, ou num lugar dedicado a esse fim pela autoridade eclesiástica.

A conservação das cinzas num lugar sagrado evita o risco de afastar os defuntos da oração e da recordação dos parentes e da comunidade cristã, bem como, das cinzas cair em práticas inconveniente e supersticiosas. Dessa forma, o documento no n. 6 afirma que a conservação das cinzas em casa não é consentida, e muito menos dividir as cinzas entre os familiares. Outra coisa que se deve evitar é a dispersão das cinzas no ar, na terra ou na água e, muito menos, como forma de recordação em peças de joalheria ou misturadas em outros objetos. 

Assim, queremos lembrar no dia dos fieis defuntos, todos os nossos entes queridos que já nos precederam. Lembremo-nos, por este documento, que a morte é a realidade que todos nós vamos passar, e por isso, devemos exigir todo respeito, pois ela não é nossa inimiga, mas nossa passagem para a Vida Eterna. 

Dom Ricardo Hoepers
02 de Novembro de 2016